Este artigo é sobre Tecnologia

A inteligência do ócio

Nuno Oliveira

Global CTO

Publicado em
03 de Maio de 2024

A Quarta Revolução Industrial já está instalada e o que faremos de diferente em relação às anteriores? Passamos dos tempos das máquinas a vapor, em 1760, para a conversação entre elas em pouco mais de 250 anos. A mecanização da produção pressupunha, desde o início, a manutenção ou o aumento da produção de bens de consumo com menos esforço humano, gerando mais empregos e bem-estar social.

Entretanto, o que se vê desde então é o aumento da fadiga do trabalhador e do desemprego. Pois temos agora, com a chamada Indústria 4.0, mais uma oportunidade de buscarmos o equilíbrio entre trabalho e vida social a partir da elevação da automação industrial a um novo patamar graças ao uso da inteligência artificial, e da discussão sobre o consumo racional diante da consciência da limitação de recursos do planeta.

A IA deve ter o ser humano no centro das ações, pensando como o humano entende a realidade e apoiando a sua decisão, trazendo valor como uma grande auxiliar para as nossas atividades econômicas. O momento é único para a sociedade repensar as suas indústrias e transformá-las de vez, inserindo-as no ambiente digital e aprimorando a sua automação. Esse próximo passo pode e deve incluir o desenvolvimento socioeconômico.

Temos novamente, diante de nós, a chance de promover a redução das jornadas de trabalho, mantendo a produtividade e abrindo espaço para mais empregos. Por que não adotamos uma jornada menor, com um terceiro turno de trabalho? Ou até um quarto turno? Diversas experiências estão em curso no mundo em torno da redução da semana de trabalho de cinco para quatro dias, com a mesma produtividade. Pois a transformação digital nos concede agora a IA como ferramenta para avançarmos nessa direção. Apenas o simples conceito de ter sugestões de ação ou decisão, e escolher a melhor.

Imaginem uma fábrica com ainda mais trabalhadores, podendo-se produzir muito mais com menos esforço e menos carga horária de trabalho? Esta é a oportunidade de, finalmente, transformamos o aparato tecnológico de que dispomos em vantagem cultural e social, com mais tempo para nós. Neste ponto, chegaríamos ao estado de ócio do qual desfrutavam os antigos gregos, sabiamente defendido por pensadores ao longo dos últimos três séculos, como o francês Paul Lafargue, o inglês Bertrand Russel e o italiano Domenico De Masi — falecido em setembro.

A Indústria 4.0 pode levar essa redenção não só às linhas de produção, mas também à vida do trabalhador — sobretudo o das classes mais baixas —, liberando-lhe mais tempo para si e concedendo-lhe o direito ao ócio, à família, ao lazer, à cultura, à educação, ao refinamento da nossa sociedade. A inteligência artificial poderá ser preponderante na promoção da igualdade, distribuição de riqueza e bem-estar.

Após a pandemia, muitas pessoas pensam, ou mesmo exigem, trabalhar em modelo remoto. A sociedade está mudando e apontando um caminho de simplificação do dia a dia de trabalho. Da diminuição do tempo consumido em atividades sem grande valor acrescentado. Precisamos adotar modelos de pensamento que nos ajudem nas decisões do que todos nós procuramos: maior autonomia de gestão do tempo pessoal, sem perder de foco a capacidade produtiva. Precisamos, no entanto, confiar nessas sugestões e nos modelos de decisão, e mapear a forma de pensar, que aceitamos e entendemos como válidos.

Esse é um dos exemplos de como todo o ecossistema da Indústria 4.0 pode promover maior qualidade de vida. A transformação digital pode reduzir drasticamente o desemprego. A quarta revolução industrial tem a missão e o dever moral de conciliar tempo, trabalho, estudos e lazer para gerar um verdadeiro estado de bem-estar. E a IA é um elemento auxiliar na busca desse equilíbrio, produzindo-se mais e melhor com menos esforço.

A tecnologia pode gerar novas oportunidades e empregos em diferentes setores. No entanto, a adaptação a essas mudanças requer investimentos imediatos em capacitação e desenvolvimento de habilidades para acompanhar as inovações tecnológicas. Governos, empresas e indivíduos precisam estar preparados para enfrentar esse desafio e aproveitar as oportunidades que a tecnologia nos proporciona, evitando os mesmos erros das três revoluções industriais anteriores.

Como conclui Domenico de Masi em "A Economia do Ócio": "Os modernos métodos de produção tornaram possíveis a segurança e o bem-estar para uma parcela maior de pessoas, mas, apesar disso, continuamos preferindo o sobretrabalho para alguns e a penúria para os demais. Ainda somos tão energéticos quanto éramos antes de existirem as máquinas. Nesse aspecto, temos sido tolos, mas não há razão para sermos tolos para sempre".

Precisamos gerenciar melhor nossos recursos e tempo, utilizar melhor os meios tecnológicos que temos ao dispor, e temos condições totais para isso. Acabou-se o tempo da tolice. Todos temos a responsabilidade de mudança que nos exige a sociedade e devemos olhar em volta e assumir o nosso papel.

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